“Prefiro incomodar com a verdade a agradar com adulações.”
Lúcio Séneca
Dos macacos que riem ao se depararem com o líder do bando, dos gatos e leões que rolam no chão ao homo sappiens, a sobrevivência de alguns parece estar ligada a bajulação. Do latim bajulare, ou adular (adulari) entre tantos outros verbos usados no Brasil, tal tarefa é uma arte. Engana-se, digo verazmente, quem pensa que bajular é para qualquer um. Na arte da bajulação tem que ter certas características especiais.
Uma das características é não ter amor próprio. Um bajulador que se preze tem que amar mais ao adulado que a si próprio, e tem de convencê-lo disso. Não importa o que seja feito, dito, ou até mesmo vislumbrado pelo adulado, que não seja a mais bela, segundo o adulador, das realizações feitas por um ser. Ele não precisa ter opinião própria. É como aquela piada sobre um adulador que certo dia entra no escritório do chefe, num momento mais descontraído e diz: “Eu gosto de apenas duas pessoas no mundo, chefe...” e este lhe pergunta: “Sua esposa e seu filho?” “Errado! A primeira é o senhor...” responde. O chefe fica um pouco sem graça: “Obrigado, mas quem é a segunda?” Astutamente, vem a resposta: “E a outra é quem o senhor indicar”.
Uma característica também marcante é não ter competência. O adulador deseja alcançar seus objetivos, mas com impulso próprio ele sabe que não consegue. Não é capaz de nem mesmo escrever um texto. Se escrever um ofício, pedem-lhe para refazer. Se lhe mandam articular uma reunião, enrola-se todo. Se mandarem escrever uma postagem num blog, é um afronta à língua portuguesa. O coitado não sabe nem o que é um substantivo sobrecomum... Daí, o ímpeto por tentar “lavar os pés do senhor.” Um serviçal incompetente pode ser muito útil, deste que este faça qualquer lambança a fim de galgar qualquer posto e arrancar do chefe algumas migalhas, assim como um cãozinho amestrado abana a cauda, recebendo ração, quando acaba de fazer o que o adestrador manda. Embora, algum servil bajulador não consiga fazer tudo sem dar problemas, uma vez outra.
Um adulador que se preze não precisa ter cérebro. Só é preciso que seja tão ignóbil quanto o adestrador. Bastam-lhe as intruções. Basta seguir algumas orientações, pelas quais ele crer que chegará ao posto máximo de seus sonhos: deixar o mestre-sala feliz, e vencer sua intransponível e desprezível incapacidade intelectual. Fato também este, desnecessário. Quanto mais ignorânica melhor a servidão.
É lastimável a contribuição dos bajuladores, dos serviçais que inundam o mundo dos negócios, da política e outros campos da vida. São torpes, desprezíveis, mas necessários à ascenção e manutenção dos que raciocinam. É como disse Jean Carlos Sestrem:
“Quanto mais aduladores o vil precisa, mais mentira ele acumula em seu legado, mais tiranias comete, mais injustiça distribui.”